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Matéria tirada da Revisa da Hora do Jornal Agora São Paulo do dia 11 de Abril de 1999

Ervas Medicinais e chás exigem cuidados
por Augusto Pinheiro

Utilizadas desde o ano 3700 antes de Cristo pelos chineses, as ervas medicinais são, ainda hoje, arma de muitas famílias contra doenças, e os conhecimentos sobre elas passam geralmente de pais para filhos.

Com propriedades terapêuticas comprovadas, as ervas exigem, porém, cuidados específicos e muitas têm efeitos colaterais se não utilizadas da maneira adequada (veja quadro a baixo).

"Em primeiro lugar, as pessoas tem de saber se a erva é realmente indicada para a doença que ela tem. O ideal é consultar um especialista e não usar por conta própria."

Sylvio Panizza, farmacologista

"Primeiro, a pessoa tem de saber se a planta é realmente indicada para aquela doença. O ideal é consultar especialistas, como um fitoterapeuta ou um naturista e não ir usando sem critério, por conta própria" , diz o farmacologista Sylvio Panizza, 68, da USP.

A dosagem correta também deve ser indicada por um profissional. "A pessoa não pode tomar a quantidade que quiser. A folha da 'bela dona', por exemplo, planta que serve como analgésico, pode causar alucinações em quantidades elevadas", adverte.

O preparo do chá também tem suas regras. Segundo as herboristas (estudiosas de plantas) Ana Maria Dourado e Lucinda Vieira, que escreveram o livro "A Cura Natural-Manual das Plantas Medicinais", com a colaboração de especialistas, há duas formas principais de se preparar o chá de ervas.

"Se forem usadas as partes mais delicadas da erva, como flores e folhas, a técnica recomendada é a infusão, por ser mais fácil e mais segura", ensinam.

Nesse caso, a água fervente tem de ser despejada sobre a erva. Depois, deve-se tapar o recipiente e deixar repousar por um período entre 5 e l0 minutos, coar bem e beber.
"Já para as partes mais duras da planta, como cascas, talos-e sementes, o recomendado é a decocção", diz Lucinda. Isso significa que se devem juntar a erva e uma xícara de água fria em um recipiente, depois levar ao fogo brando por 3 a 30 minutos ou até que se sinta bem o aroma dela. "Então, é só deixar repousar por alguns minutos, coar e tomar", completa Ana Maria.

Recipientes esmaltados

Ana Maria e Lucinda alertam que não é recomendável que as pessoas preparem esses chás em recipientes feitos de alumínio, ferro ou estanho. De acordo com elas, esses materiais liberam substâncias que podem alterar o princípio ativo das ervas.

O ideal é utilizar recipientes esmaltados, de vidro, barro ou louça. De preferência, a água deve ser filtrada. É muito importante também escolher um lugar confiável para comprar as ervas.

"Normalmente, recomendamos farmácias ou casas especializadas, que dão mais garantia por causa da fiscalização da Vigilância Sanitária", diz Lucinda.

Ela recomenda analisar bem a planta, principalmente as flores, para ver se não há carunchos (insetos), que é um sinal de que a planta não foi bem secada e não tem qualidade.

Também deve-se dar preferência às ervas que são vendidas em lugares sem umidade e com ventilação. Outra dica das herboristas é comprar apenas aquelas que têm indicação clara do prazo de validade. Caso contrário, recuse.

"Como os nomes das ervas mudam de conforme a região, é indispensável conhecer o nome científico", diz Lucinda. "Assim, pode-se ter certeza de estar comprando a erva certa."

Na rua

Em São Paulo, o hábito de comprar ervas em barraquinhas ao ar livre, que supostamente curam todo tipo de mal é bastante difundido.

Mas é bom tomar bastante cuidado. Além das condições de higiene serem precárias, os chás feitos a partir de erva são vendidos sem que haja o menor controle por parte das autoridades sanitárias.

Também é preciso desconfiar sempre do que dizem os donos dessas barracas. Não acredite em curas milagrosas isso não existe.

Proprietário de uma barraca sob o Minhocão, no centro da cidade, José Viriato Leite, 73, diz que aprendeu tudo sobre as plantas com seu. pai, que fazia "garrafadas" (mistura de ervas).

Segundo ele, a babosa misturada com conhaque e mel pode curar o câncer. O que é pura mentira, segundo quem entende do assunto.

"É absurdo achar que uma erva cure uma doença como o câncer. Não é verdade. A pessoa tem de recorrer à medicina tradicional nesse caso", alerta o farmacologista Sylvio Panizza.

Uso radical

Completamente arraigado em algumas famílias, o uso de ervas às vezes é radical.

"O médico me receitou um remédio para a pressão alta, mas nunca tomo. Só o mulungu (espécie de erva) cura", diz a empregada doméstica Terezinha Alves Pereira, 52, que frequenta a barraca de José Leite.

Fumante, ela acredita que nunca terá problemas. porque toma, desde a adolescência, chá da casca do ipé-roxo, árvore bastante comum no Brasil. "Quem tiver câncer de até três meses pode ser curado com o chá", diz, sem saber que essa crença não tem nenhum respaldo entre os médicos.

Panizza insiste que a medicina tradicional é a única confiável para tratamentos desse tipo. "Um profissional pode orientar as pessoas a fazer uso correto e melhor das ervas", afirma ele.

 

Conheça melhor algumas das ervas que você pode encontrar
Serve para... Tome cuidado...
Alecrim
(Rosmariuns officinalis)
problemas hepáticos e intestinais em doses elevadas, pode causar convulsões
Assa-peixe
(Vernonia polyanthes)
bronquite, tosse, ajuda na eliminação de cálculos urinares em doses elevadas, não faz efeito
Alfazema
(Lavandula officinalis)
uso externo, elimina parasitas do corpo (como piolhos) sem problema
Babosa
(Aloes spp.)
prisão de ventre, melhora o funcionamento do intestino em doses elevadas, pode causar diarréias intensas
Camomila
(Matricaria chamomilla)
cólicas menstruais, dores de ouvido e garganta deve ser evitada durante gravidez, amamentação e em crianças com menos de 2 anos
Capim-cidreira
(Cymbopogon citratus)
digestivo e calmante em doses elevadas, pode causar náusea e vômito
Guaco
(Mikania cordifolia)
gripe, tosse, melhora a circulação do sangue não pode ser usado por mulheres com fluxo menstrual em excesso, pois pode aumentá-lo mais
Quebra-pedra
(Phyllantus niruri)
dissolve cálculos biliares e renais sem problemas